sexta-feira, agosto 27, 2010

lauda 4

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pés de sinamão

"...uma escuridão em plena tarde ensolarada..."
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.em uma pausa nessa fase da vida de criança e saltando para uma fase bem ao longe. O garoto bateu em algo, estragou a frente do carro, umas das perdas foi a Luz, perder a Luz não é nada bom. Ao quebrar o farol, ficou o seu caminho escurecido. As escuras, ficou sem ver mais nada? Por um instante sim, já que precisava de tempo para compreender. "Novamente". O garoto-homem pensou aquilo que todos pensam quando ocorre algo de errado consigo "porque isso acontece somente comigo". Mas não foi nada grave, a batida foi leve, o problema é que já fora a terceira vez, mas raciocinou, é nessas horas que o respirar pronfundamente auxilia nas decisões, no que falar e melhor ainda, como agir. Pediu "desculpas" e disse para quem se "achou" prejudicado "segue a sua viagem, que aqui comigo eu me viro". Entrou no carro, virou a chave, estava tudo certo com o motor. Então saiu, deu meia volta, se posicionou a frente do automóvel, pensou em desesperar-se, mas desespero não ajuda a ninguém. Frio e calculista ficou a olhar para a frente do carro, estilhaçado o farol, o mesmo não clareava mais os seus caminhos. Uma escuridão em plena tarde ensolarada. Lembrou de quando tudo era mais fácil, quando existia os dois pés de sinamão, lá o ar era mais leve, chovia granizo, o vento sussurrava e as vezes o Minuano batia forte, o sol ardia no verão e a sombra se fazia por causa dos sinamãos. Revirando isso tudo titubeou, pensou em desistir, pois isso faz parte do ser humano, mas como sempre surge aquele facho de luz bem lá no finzinho do túnel e lembrando que os pés de sinamão suportavam muito mais que isso e resistiam ao tempo e a tudo, juntou os cacos e seguiu o caminho de volta, contornando as curvas e observando a paisagem, já que tudo era muito maior e mais importante que estragar o carro.
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quarta-feira, agosto 25, 2010

lauda 3

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pés de sinamão

"... ainda mais que a vista eram os pés de sinamão..."
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.tinha movimento já na mercearia, no Armazém! - ela tem seus 4 anos, bem localizada ela é. Sabe aquelas mercearias ou armazéns todo amadeirado, que você entra e já sente o cheiro de café novo, então, lá era assim, simples e aconchegante. E por falar em café...Era meia tarde, hora do café, dezesseis horas indo para as dezessete mais ou menos, a mãe deixou a roupa para dobrar depois, foi ajudar no Armazém mesmo começando a chover ainda tinha gente chegando para comprar, apesar de já ser em um número menor, a mãe do moleque precisava “dar uma mão”. Era em preto e branco, mas havia uma TV naquela casa, mais ou menos nessa hora- a do café- passava o Clube do Bolinha, tinha até uma trilha: “bolinha, bolinha, está na hora de você entrar na linha”. Eu lembro de algo, você lembra? O garoito lembra bem. Passava na TV Bandeirinhas era um sucesso. Concorrente direto do Chacrinha, outro sucesso para a década de 80 só que esse era na Rede Círculos. Descambou-lhe água de vez agora, era até bonito de se ver aquela chuvarada, parecia que só lá naquelas terras é que a chuva derramava daquele jeito. Derramava. Era um prazer ficar de braços cruzados apoiados na janela vendo aquela chuva cair e lá vinha a irmã quase da mesma idade se distrair um pouco, junto ao garoto, exigindo seu devido espaço na janela, ainda mais que a vista eram os pés de sinamão. Vez ou outra as duas crianças viravam para traz, olhavam para a TV a fim de assistir mais um pouco do "Clube do Bolinha", apesar de estar meio chuviscada a imagem no aparelho, ela não perdia o seu efeito de distração. Era algo além do que se podia imaginar, "como é que aquelas pessoas foram parar ali naquela caixinha com vidro"? Interrogam-se as duas crianças. -“eu não acredito que vocês estão com essa TV ligada”- esbravejou a mãe dos pequenos- ficaram em silêncio se entre olharam o rapaz e a guria e disseram com toda certeza “ah mãe nem ta trovejando” e nisso cai aquele estrondo que ninguém nunca está esperando “viram? O que que’u disse? Mas será que eu mesmo tenho que desligar”? E lá se vai à mãe dos moleques... aperta o botão, desliga a TV. De modo que não existia na verdade um botão, você empurrava mesmo era uma espécie de roda que fazia o trabalho de regular a imagem pressionando-o e de desligar e ligar o aparelho pressionando mais ao meio, era divino! Coisas do futuro, claro.
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segunda-feira, agosto 23, 2010

lauda 2

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pés de sinamão

“...o importante é que assim que começaram os primeiros pingos de chuva, a roupa já estava toda em cima do sofá...”
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.algumas nuvens começaram a aparecer. pretas. acho que vinha chuva, era sempre assim “naquelas bandas de lá”. E o vento ficou mais forte, agora mesmo que as folhas caíam. A mãe apareceu na janela olhou para a rua e gritou “vai chover!!” para o menino, ele devia ter uns 8 anos de idade. Claro ele já sabia que tinha que ir ajudar a recolher a roupa. Ventava cada vez mais forte, lembro como se fosse agora, o moleque querendo pegar as folhas amarelas que estavam caindo já que o outono se findava “mãe! Mãe! Olha as folhas, elas não me deixam eu pegar elas”. Corria (ele) pra tudo quanto é lado, parecia que o vento o guiava. leve. E a mãe embaralhada recolhendo a roupa, prendedor na boca, no avental; lençol, calça, camiseta,tudo no ombro “pega isso aqui e leva lá pra dentro já gurizinho”, porque recolher ele não ia alcançar mesmo, ele estava ali só de apoio, e foi-se o rapaz -chinelo havaianas branco com azul celeste e bermuda colegial azul marinho com listras brancas na lateral - pra dentro de casa empilhado de roupas ainda cheirando ao amaciante, Mon Bijou, aquele do comercial da TV com o Carlos Moreno, figuraça que se revelou naquela época. O importante é que assim que começaram os primeiros pingos de chuva, a roupa já estava toda em cima do sofá... O asfalto ainda não se tinha naqueles anos, então dava pra sentir aquele cheirinho de terra molhada. Agora era só ir dobrando a roupa.
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lauda 1

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pés de sinamão


“... ventava e as roupas estavam no varal.

na frente da casa tinha dois pés de sinamão ou cinamomo...”

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.era pequenino, e tem imagens que não lhe sai da cabeça, daquelas que você não esquece jamais, não sei se acontece com todos, mas com ele aconteceu. Tem uma que sempre lhe passa, acho até legal descreve-las, pelo menos aqui vou sempre me lembrar... vai que eu me esqueça...do acontecido com o rapaz. Existe um lugar chamado Terra do Polvilho, fica lá perto do "fim do mundo". Creio que é mais ou menos lá o fim do mundo, porque a gente olha em direção ao oeste, onde o sol se põe e não se vê mais nada, parece que acaba tudo ali, com aqueles imensos paredões chamados de canyons. Ele imaginava igualmente aos antigos desbravadores dos mares, que subindo aqueles imensos paredões não haveria nada do outro lado e aí você cairia num abismo ou sei lá, em algo como um imenso gramado que depois se ligaria com algum vulcão, coisas desse tipo... Enfim... Ventava e as roupas estavam no varal. Na frente da casa tinha dois pés de sinamão ou cinamomo - pelo menos era o nome vulgarizado que todos chamavam pra’quelas árvores que faziam bastante sombra e que na primavera saia umas “baguinhas” verdes pequeninas tipo cachos, sabe? Se não sabe, elas são “mais” conhecidas como Melia azedarach, nome dado pelos botânicos pra nenhuma pessoa esquecer, claro. Crianças brincavam de guerrinha com aquelas “baguinhas” - era fim de outono, havia algumas folhas caídas ainda, mas os pés de sinamão já estavam bem encorpados e a primavera estava chegando. Entre os dois pés de sinamão tinha o varal. A corda ia de uma árvore até a outra. Muito comum daquela gente plantar árvores e utiliza-las como varal. Fico imaginando "se para ser um homem realizado na vida tem que escrever um livro, plantar uma árvore e ter pelo menos um filho", para o pai daquela família só faltava escrever o livro, por que os pés de sinamão foi ele quem plantou e os filhos completavam o restante desta ciranda. Mas concluí que ele nem sabe dessas coisas e mesmo assim é realizado. Ciranda, outra coisa bem comum entre aquelas mesmas crianças que brincavam de "guerrinha de bagas de sinamão".

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