quarta-feira, agosto 25, 2010

lauda 3

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pés de sinamão

"... ainda mais que a vista eram os pés de sinamão..."
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.tinha movimento já na mercearia, no Armazém! - ela tem seus 4 anos, bem localizada ela é. Sabe aquelas mercearias ou armazéns todo amadeirado, que você entra e já sente o cheiro de café novo, então, lá era assim, simples e aconchegante. E por falar em café...Era meia tarde, hora do café, dezesseis horas indo para as dezessete mais ou menos, a mãe deixou a roupa para dobrar depois, foi ajudar no Armazém mesmo começando a chover ainda tinha gente chegando para comprar, apesar de já ser em um número menor, a mãe do moleque precisava “dar uma mão”. Era em preto e branco, mas havia uma TV naquela casa, mais ou menos nessa hora- a do café- passava o Clube do Bolinha, tinha até uma trilha: “bolinha, bolinha, está na hora de você entrar na linha”. Eu lembro de algo, você lembra? O garoito lembra bem. Passava na TV Bandeirinhas era um sucesso. Concorrente direto do Chacrinha, outro sucesso para a década de 80 só que esse era na Rede Círculos. Descambou-lhe água de vez agora, era até bonito de se ver aquela chuvarada, parecia que só lá naquelas terras é que a chuva derramava daquele jeito. Derramava. Era um prazer ficar de braços cruzados apoiados na janela vendo aquela chuva cair e lá vinha a irmã quase da mesma idade se distrair um pouco, junto ao garoto, exigindo seu devido espaço na janela, ainda mais que a vista eram os pés de sinamão. Vez ou outra as duas crianças viravam para traz, olhavam para a TV a fim de assistir mais um pouco do "Clube do Bolinha", apesar de estar meio chuviscada a imagem no aparelho, ela não perdia o seu efeito de distração. Era algo além do que se podia imaginar, "como é que aquelas pessoas foram parar ali naquela caixinha com vidro"? Interrogam-se as duas crianças. -“eu não acredito que vocês estão com essa TV ligada”- esbravejou a mãe dos pequenos- ficaram em silêncio se entre olharam o rapaz e a guria e disseram com toda certeza “ah mãe nem ta trovejando” e nisso cai aquele estrondo que ninguém nunca está esperando “viram? O que que’u disse? Mas será que eu mesmo tenho que desligar”? E lá se vai à mãe dos moleques... aperta o botão, desliga a TV. De modo que não existia na verdade um botão, você empurrava mesmo era uma espécie de roda que fazia o trabalho de regular a imagem pressionando-o e de desligar e ligar o aparelho pressionando mais ao meio, era divino! Coisas do futuro, claro.
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