quarta-feira, maio 28, 2008

pés de sinamão (parte 1)



Tenho saudades de uma imagem,
uma só não,
são várias. Que nunca saem da minha mente.




Ele era pequenino, e tem imagens que não lhe sai da cabeça, daquelas que você não esquece jamais, não sei se acontece com todos, mas com ele aconteceu. Tem uma que sempre lhe passa, acho até legal eu descreve-las, pelo menos aqui vai ficar registrado e aí eu vou sempre me lembrar....vai que eu me esqueça...do acontecido com o rapaz.
Tem um lugar chamado Terra do Polvilho, fica lá perto do fim do mundo, acho que é mais ou menos lá o fim do mundo, porque a gente olha em direção ao oeste, onde o sol se põe e depois some e não se vê mais nada, parece que acaba tudo ali, com aqueles imensos paredões chamados de canyons. Ele imaginava igualmente aos antigos desbravadores dos mares, que subindo aqueles imensos paredões não haveria nada do outro lado e aí você cairia num abismo ou sei lá, em algo como só um gramado assim bem grande e depois emendaria com algum vulcão, coisas desse tipo...
Enfim... Ventava e as roupas estavam no varal. Na frente da casa tinha dois pés de sinamão ou cinamomo - pelo menos era o nome vulgarizado que todos chamavam pra’quelas árvores que faziam bastante sombra e que na primavera saia umas “baguinhas” verdes pequeninas tipo cachos, sabe? Se não sabe, elas são “mais” conhecidas como Melia azedarach, nome dado pelos botânicos pra nenhuma pessoa esquecer, claro. E a gente brincava de guerra com aquelas “baguinhas” - era fim de outono, havia algumas folhas caídas ainda, mas os pés de sinamão já estavam bem encorpados e a primavera já estava chegando. Entre os pés de sinamão tinha o varal. A corda ia de uma árvore até a outra. Hoje eu fico imaginando “se para ser um homem realizado na vida tem que escrever um livro, plantar uma árvore e ter pelo menos um filho, para o pai daquela família só faltava escrever um livro, por que os pés de sinamão foi ele quem plantou e os filhos completavam o restante desta observação”, mas concluí que ele nem sabe dessas coisas e mesmo assim é realizado.
Algumas nuvens começaram a aparecer, pretas, acho que vinha chuva, era sempre assim “naquelas bandas de lá”, e o vento ficou mais forte, agora mesmo que as folhas caíam. A mãe apareceu na janela olhou pra rua e gritou para a criança, ela devia ter uns 8 anos de idade, “vai chover!!”, claro ele já sabia que tinha que ir lá ajudar a recolher a roupa. Ventava cada vez mais forte e eu lembro como se fosse agora, o moleque querendo pegar as folhas amarelas que estavam caindo já que o outono se findava “mãe! Mãe! Olha as folhas, elas não deixam eu pegá-las” e ele corria pra tudo quanto é lado, parecia que o vento o guiava, leve. E a mãe embaralhada recolhendo a roupa, prendedor na boca, na camiseta; lençol, calça, camiseta, tudo no ombro “pega isso aqui e leva lá pra dentro já gurizinho”, porque recolher ele não ia alcançar mesmo, ele estava ali só de apoio, e foi-se o rapaz pra dentro de casa empilhado de roupas ainda cheirando ao amaciante, Mon Bijou, aquele do comercial da TV com o Carlos Moreno, figuraça que se revelou naquela época.
O importante é que assim que começou os primeiros pingos de chuva, a roupa já estava toda em cima do sofá...

4 comentários:

Anônimo disse...

...hoje o menino cresceu e está lá no alto, sobre a laje de concreto de um edificio baixo, guardando a roupa que ele mesmo lava e recolhe...

Fábrica dos SONHOS disse...

As cenas internas (dentro da mente do personagem) s�o muito mais importantes do que as externas, entende?
Gosto de textos assim.
Texto com participa�o de chuvas, ventos, folhas...(criamos sempre um mundo imagin�rio na mente da gente, que as vezes at� conseguimos sentir o gosto da chuva, do cheiro do vento....)

Coisas molhadas, lugares...interessante,
adoro ler estas coisas bem escritas e inteligentes.

Mas, s� sei dizer que hoje o menino esta ai, surpreendendo a todos.
Parab�ns!!!

Anônimo disse...

Véio!!!! são cenas interessantes...
recentemente alguns estudos revelaram que há uma "memória" olfativa e, quando sentimos cheiros relacionados à nossa infância, viajamos ao tempo, resgatando experiências vividas!!!
muito bom...
veja o filme "O perfume"!!!

CLEIDE VALIM disse...

TENHO UMA ARVORE DESTA NA MINHA CASA , TODOS DIZEM QUE ELA É LINDA E COM ESTES COMENTARIOS DIGO... FUI EU QUEM PPATEI COM TODO ORGULHO. NESTE DIA PEDI AO TECNICO FLORESTAL DA MINHA CIDADE QUE QUERIA PODAR, ELE DISSE ESTA É A ARVORE MAIS LINDA DA RUA, NÃO PODE POIS ELA AGORA SOMENTE IRA ENGROSSAR OS GALHOS. AGORA A VEJO COM OLHARES DIFERENTES E TENHO MAIS ORGULHO AINDA.